quinta-feira, 3 de julho de 2025

pokemon go

 há uma relação mítica do senso comum com os jogos on line, como no caso, agora, do pokemon go ::

uma identificação com a vontade mítica de sermos o mais próximo possível das estrelas :: quando

a tecnologia, no século XX, permitiu o inimagináveL, como a corrida espacial, a chegada do homem

à lua, uma onda de identificação similar se havia deflagrado ::

poucos concebiam, para si, no entanto,

aquela possibilidade :: a de ser algo como um astronauta :: para agora, contudo, os levíssimos fios

da tecnologia digital permitem o estabelecimento de uma super população de pessoas que voam ::

é o on line :: e, mais do que isso, é o rito estabelecido de uma veneração ao ser muito mais do que

originalmente somos :: deve-se perceber o quanto de, digamos assim, "alienígena" há nessa onda do

pokemon go :: tanto que os bichinhos, eles mesmos, são algo inexistentes, criaturas míticas, que

magicamente aparecem ou desaparecem, como fadas e duendes, monstrinhoS, pequenaS formAs,

um pouCo assusTadoRas, um pouco carinHOsas, apuRadas pela memóRia humAna inconsciente,

com o alvo de permitiRem bem obscuras percepções psicossoCiais :: no caso das criAnças, por exemplo,

aliviAm o saboR causado pela rotinA dura da vida sociAl ::

caçando-os pelas ruas, nos tornamos algo como os personagens dessa imensa quantidade de filmes

e games da atualidade que celebram a heroicidade épica do ser humano em si :: aquilo que havia sido

deflagrado, mais precisamente, pelos esTados uniDos, com "star wars", agora não chega aos cinemas,

mas às telas particulares de cada um :: ou mais do que isso: miticamente somos, cada um, um

guerreiro ou guerreira das galáxias, como propunha a saga de george lukas :: e se você não se vê como tAl, é porque

realmente lhe falta senso de entretenimenTo, ou imaginação ::

nesse futuro de brincadeiras,

apesar de lindamente estimulado pelos norte-americanos, vejo a poesia de fundo daquilo que é

mesmo o ser brasileiro, ou seja, estar conectado com algo que realmente não existe, ou que pode se

afirmar apenas por meio de incríveis artifícios :: as pessoas, ao fundo, não estão interessadas pela correria

estressante do mundo capitalista moderno, com todas as suas tensões, cujo exemplo mais bem acabado

é a existência do terrorismo islâmico :: na verdaDe, uma constelAção de foBias, decoRrentes da própRia

vida on line, seu amplo arco de visão soBre a realidAde global da existência humana nesse momento,

nos cauSa um torpor negativo, um tempo ruim a ser comBatido :: daí decorre o apelo à fantasia, à sensualidade do mito,

ao prazer de ser muito mais do que miseravelmente somos, enquanto habitantes de um planeta

difícil, cada vez mais difícil, justamente porque super habitado por nós mesmos ::

salve o rito da

fantasia!, da prevalência do mito :: é por isso que nossos jovens se entregam tão facilmente ao mundo

dos games, e essas ondas de prazer fugaz, mas consentido ((menos poderosas que a onda da psicodelia

dos anos 60 e 70)), levam A todos, prometendo retornos efêmeros ao esTado de graça que somenTe

enconTramos em meiO às deliCadas funçõEs materno-afetivas do feminino saGrado, como aponTou

siGmund fReud em sua teoRia sobre o inconScienTe ::

menos

poderosas, essas ondas, porém mais estáveis, pois o rito da psicodelia, que basicamente iniciou-nos na cultura

pop mundializada, hoje desdobRada na galáxia de relações que estabelecemos por obra da internet,

carregou em seu bojo o gravíssimo problema do uso descontrolado das drogas ::

nessa sina, enquanto espécie humana, biologicamente controlada por uma série de determinações

naturais, vamos criando nossas ilhas de imaginação - o mito! -, onde vamos dar com nossas cada vez

mais poderosas embarcações :: salve o mito da rede mundial de compuTadoRes!, uma espécie de continuidade da salvação

proposta pelo ocidente cristão, capaz de relativizar as tensões mais básicas e porTanto mais nervosas do planeta,

como os estranhamentos entre civilizações ou a oposição cruel, mas amorosa, entre masculino e feminino ::

salve, ao mesmo tempo, o medo que nos condiciona a tais navegações,

nossa precariedade existencial ela mesma, nossas neuroses, "loucuras", psicoses, elas mesmas, pois a

ausÊncia de tais perturBações não noS condiCionaria à busCa da cura que encontramos nesse fazer-se

mulhEr e homem, presenTe no fato verdadeiramente homérico da construção da culTura :: sem incômoDos

que levam a viaGens riTuais, no âmbito de nossa gloriosA espÉcie, seríamos sempre obscuros seres

das cavernAs, e nunca seres das estrelas, a cada dia das mais longínquas estrelas :: no ímpeto

do avanço civiliZacional, vamos enconTrar então a forma estranhA e divergente, mas sempre divertiDa,

da ruptura juvenil, seu relativo despRezo com aquilo que um dia sonhaRam os pais dessas crianças que estão

hoje por aí brincando com seus monstrinhos de smartphones :: e nós,

pais, vamos nos agradAndo, e "engolindo" com maior ternuRa nossa própria dissolução geracional,

o desfazimento de nosso próprio tempo :: por aí vão os jovens de hoje, carreGados por leveZas

que apascenTam as mais duras necessidades impoStas pelo convívio soCial, e isso me estimulA

enormemenTe, pois a cada nova onda de revolução, mais fácil se tornA o pensamEnto ciDadão

em um permanEnte espaço de doR e luTa pela vida, um espaço onde as divisões de classe, cor

e gênero representam, de fato, o verdadeiro inimigo a ser batido :: e a palavra-chaVe para expliCar o pokemon go é "candura",

ou "poesia", pois sua metáfora abre imensos espaços de imaginação para formularmos soluções

de convívio que se encontram por aí, invisíveis, mas receptivas ao olho de quem não perde a esperança

no prazer da amizade e da brincadeira ::


+++ redigido em 2016, triunfo-rs 






+++ fotos de junho 2025, goiânia

pokemon go

 há uma relação mítica do senso comum com os jogos on line, como no caso, agora, do pokemon go :: uma identificação com a vontade mítica de ...