quinta-feira, 15 de junho de 2023

traBalho






 




segurar a lenha, segurar o fardo, secar a poça, abrir o atalho, remanejar o gado, esperar esfriar, farinhar, selar, conter, escrever, relembrar, comer, conter-se, entender :: 

tudo isso sem gemidos, sem pedir folga ou gratidão, sem pequenez :: 

tudo isso pela cósmica unção, pela cosmologia cabocla, pelo calor de sentir os estalos regionais da identidade cultural nossa inteira :: 

tudo isso com um vaso nacional à cabeça, um chá, um turbante, um colar indígena de perdão à alma reveladora do brejo humano :: 

um colar, um anel, uma bênção :: 

e espalho saúde, e sou farto em disposição, oitenta vezes a mudança que eu desejei um dia, meu pai é corpo das emas e calor totêmico da junção  das formigas :: 

meu pai é pote e pipa de barro, é carro que anda e navega, é jurema a vadiação nas vozes de um terreiro, mais milagres provocados pela maconha :: 

e estremeço :: 

a força das mães em suas não-folgas de recomeços em eternos ares de produção e frutas :: 

não há sol que me derreta :: sou de cimento e barro :: sou de poeira longínqua e sonho estar implacável como uma multidão ::






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