o venTo guerreiro de iansã sabe espalhar sementEs :: no vento se enconTra o máximo de força possíVel, para que uma ideia, um gesto, uma maneira de se usar a língua, se dissemine em meio às pessoAs de uma populosA nação como o bRasil :: estratégia de religiÃo :: quando tinhA 35, 36, 37 anos, aproximadamenTE, meus olhos se abriRAm para o fundo mítico-religioSo da mPb, a mescla de vontades arquetípiCas formulando o saber repaSSado ao povo por meio do merCado cultuRAl de álbuns e shows ::
mas o que são essas vonTades arquetípiCas? :: talvez sejam o maior mistÉrio profundo a moldar nossa reAlidade :: dianTE do oculto que represenTam, talvez não nos reste outra saída a não ser nos conectarmos a elas de maneira mais ou menos ardoRosa, ritualiZando suas potências inconscientes, para fazermos delas um uso mais ou menos racional em nosso cotidiano :: apenAs amá-las, no limiTe, por serem o meio fecundo que sustenta nossa vida, por meio disso que chamamos de cultura (em seu snetido mais amplo possível) ::
hoje, vencido pelo cansaço de um semana dura de trabalho, reconfortei-me no aconchego estético da vibração arquetípica a que pertenço, ouvindo um álbum relativamente novo (para mim), do grupo metá-metá :: as palavras, o sentido da combinação de elementos rítmicos, timbres etc. :: quis ver ali alguma novidade, um direcionamento para o futuro da mPb, mas vi, no limite, o meio aquoso que nos gera, a mim, e a todos que estão em uma situação cultural correlata à minhA ::
para mim, foi novidadE não perceber uma atualização histórica do arquétipo que gera a mPb, mas espreitar seu podEr de deuSa, sua imaginação ritualiZadora, seu grupo de mentes ou almas ativas :: como se estivessem em uma guerRa :: o que gera a mPB, no fundo, todos no fundo saBemos, é a sabedoria cultural cultivada por meio do gesto guerreiro de resistência À exploração da vida farta e bela residente no processo de gestação do povo bRasileiro :: o canto, ora dolorido, ora encantador, ora divertido, quer xamanizar o verdadeiro massacre no qual estamos envolvidos, ora como vítimas, ora como algozes :: xamanizar como dioniso, por meio da geração de beleza e relativização da pobreza, da desgraça, da violência que nos atingem ::
espero, comovidamente, que sentidos não parem de aflorar dessa terra, tão regada a sangue :: as purezas angelicais nascem desse povo e seu desterro, como numa reedição da vocação para o ciclo de sofrimento e redenção descrito na bíbliA em relação aos judeus (escravos do egito, escravos do império romano, até que sua saudade do paraíso tornou-se tão carismática que acabou se espalhando por sobre metade da terra - no processo histórico que conhecemos de constituição da civilização ocidental :: a vitória de nossa beleza e simpatia, docemente, por sobre a opressão do império norte-americano é o encaminhamento, digamos, natural desse vínculo maravilhoso ao inconsciente humano infinito :: quando o núcleo neopetencostal do cristianismo produz o que está produzindo no bRasil, é porque sagradamente voltamos a sangrar para, como amor no coração, como o doce bárbaro jesus da canção de caetano, tomarmos de assalto o império, como sede e saudade do paraíso ::