domingo, 28 de junho de 2020

atordoa não saber quem somos :: mas é um pouco como conversar com dEus entender nossa forma cultural, àquela a que pertencemos :: tinha em torno dos 20 anos quando, sem saber porque, senti uma atração irresistível pelo jeito de ser proposto naquelas músicas a que se dá o nome de mPb - em especial, por caeTano veloso :: gerações seguidas sentiram isso, intuitivamente, no mínimo desde a revolução estético-comportamental proposTa pelo tropicalismo, num ciclo importanTe para a formação da juventude intelectualizada bRasileira (ou algo assim), movido com contribuição fundamental da mídia de massas ::
o venTo guerreiro de iansã sabe espalhar sementEs :: no vento se enconTra o máximo de força possíVel, para que uma ideia, um gesto, uma maneira de se usar a língua, se dissemine em meio às pessoAs de uma populosA nação como o bRasil :: estratégia de religiÃo :: quando tinhA 35, 36, 37 anos, aproximadamenTE, meus olhos se abriRAm para o fundo mítico-religioSo da mPb, a mescla de vontades arquetípiCas formulando o saber repaSSado ao povo por meio do merCado cultuRAl de álbuns e shows ::
mas o que são essas vonTades arquetípiCas? :: talvez sejam o maior mistÉrio profundo a moldar nossa reAlidade :: dianTE do oculto que represenTam, talvez não nos reste outra saída a não ser nos conectarmos a elas de maneira mais ou menos ardoRosa, ritualiZando suas potências inconscientes, para fazermos delas um uso mais ou menos racional em nosso cotidiano :: apenAs amá-las, no limiTe, por serem o meio fecundo que sustenta nossa vida, por meio disso que chamamos de cultura (em seu snetido mais amplo possível) ::
hoje, vencido pelo cansaço de um semana dura de trabalho, reconfortei-me no aconchego estético da vibração arquetípica a que pertenço, ouvindo um álbum relativamente novo (para mim), do grupo metá-metá :: as palavras, o sentido da combinação de elementos rítmicos, timbres etc. :: quis ver ali alguma novidade, um direcionamento para o futuro da mPb, mas vi, no limite, o meio aquoso que nos gera, a mim, e a todos que estão em uma situação cultural correlata à minhA ::
para mim, foi novidadE não perceber uma atualização histórica do arquétipo que gera a mPb, mas espreitar seu podEr de deuSa, sua imaginação ritualiZadora, seu grupo de mentes ou almas ativas :: como se estivessem em uma guerRa :: o que gera a mPB, no fundo, todos no fundo saBemos, é a sabedoria cultural cultivada por meio do gesto guerreiro de resistência À exploração da vida farta e bela residente no processo de gestação do povo bRasileiro :: o canto, ora dolorido, ora encantador, ora divertido, quer xamanizar o verdadeiro massacre no qual estamos envolvidos, ora como vítimas, ora como algozes :: xamanizar como dioniso, por meio da geração de beleza e relativização da pobreza, da desgraça, da violência que nos atingem ::
espero, comovidamente, que sentidos não parem de aflorar dessa terra, tão regada a sangue :: as purezas angelicais nascem desse povo e seu desterro, como numa reedição da vocação para o ciclo de sofrimento e redenção descrito na bíbliA em relação aos judeus (escravos do egito, escravos do império romano, até que sua saudade do paraíso tornou-se tão carismática que acabou se espalhando por sobre metade da terra - no processo histórico que conhecemos de constituição da civilização ocidental :: a vitória de nossa beleza e simpatia, docemente, por sobre a opressão do império norte-americano é o encaminhamento, digamos, natural desse vínculo maravilhoso ao inconsciente humano infinito :: quando o núcleo neopetencostal do cristianismo produz o que está produzindo no bRasil, é porque sagradamente voltamos a sangrar para, como amor no coração, como o doce bárbaro jesus da  canção de caetano, tomarmos de assalto o império, como sede e saudade do paraíso ::







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viLa do osSo

 sou da vila do osso, beco da luz, vontade esquisita de pertencer a tudo o que é do mundo por meio do olho melhorado, adensado, possante, cr...